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Anjos que salvam através da música

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Última atualização em 3 de agosto de 2021

Grupos musicais se apresentam em hospitais e transformam a vida de quem luta contra o câncer

Por Leandra Lima | Fotos Carlos Colon

Já disse, certa vez, o filósofo Aristóteles: “A música é celeste, de natureza divina e de tal beleza que encanta a alma e a eleva acima da sua condição”. O extraordinário poder de síntese do pensador do século IV a.C. não poderia ser mais feliz. Prova disso são os resultados positivos constantemente testemunhados em clínicas, enfermarias e hospitais. Locais onde os pacientes recebem a visita voluntária de musicoterapeutas, de terapeutas e de grupos musicais.

A primeira experiência de levar música para os hospitais aconteceu logo após a Segunda Guerra Mundial nos Estados Unidos e na Europa. Foi uma tentativa de amenizar os efeitos traumáticos sofridos pelos soldados nos campos de batalha. Os resultados superaram as expectativas. Desde então, esse artifício tem sido utilizado para melhorar a qualidade de vida de todos no ambiente hospitalar por meio da musicoterapia.

Funciona assim: a música ajuda a desenvolver ou despertar necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas do paciente. Seja uma criança, um adulto ou um idoso. Em outras palavras, auxilia a controlar o estresse, aliviar a dor, externar sentimentos, estimular a memória, melhorar a reabilitação física e a socialização. Estudos já comprovaram que a música é capaz de interferir na batida cardiovascular, no sistema respiratório e na tonicidade muscular. O processo da musicoterapia pode acontecer por meio de diferentes métodos. Alguns tocam músicas para o paciente. Mas na maioria dos casos, o próprio paciente é estimulado a tocar os instrumentos musicais, a cantar, e, às vezes, até a dançar.

A MÚSICA ATUA COMO TERAPIA FUNCIONAL

Além da musicoterapia profissional, há também os terapeutas funcionais e os músicos que, voluntariamente, realizam apresentações em clínicas e hospitais. Os terapeutas utilizam a música para estímulos sensoriais e neurológicos que podem trazer diversos benefícios. Desde relaxamento até resgate de memórias afetivas.

A terapeuta Marília Bense Othero, por exemplo, foca o seu trabalho no resgate da história de vida da pessoa. Especialmente a de pacientes graves, a partir do seu repertório pessoal. “Esse trabalho exige uma atenção redobrada, porque os gostos são muito singulares. A mesma música pode desencadear um sentimento alegre em um paciente e melancólico ou triste em outro”. Pode ser de maneira passiva, apenas ouvindo a seleção musical com o paciente. Ou ativa, geralmente com pacientes que já sabem tocar instrumentos musicais. Muitas vezes é um momento para a pessoa recuperar um hobby perdido. “Esses momentos melhoram a autoestima, enchem os dias com atividades prazerosas e ajudam a fortalecer as relações com todos ao redor, inclusive com os familiares e acompanhantes”, afirma Marília.

MÚSICOS VOLUNTÁRIOS AJUDAM E SÃO AJUDADOS

Fazer apresentações em clínicas, enfermarias e hospitais é um trabalho maravilhoso que pode ser considerado uma via de mão dupla: revitaliza os pacientes e seus familiares e também os próprios artistas, que a partir dessa pequena doação encontram um sentido nobre para o seu dom artístico. Quem confirma essa máxima é a vocalista do grupo musical Viola Mágica, Vanessa Barum.

A banda, especializada em fazer apresentações para o público infantil, visita regularmente crianças internadas em clínicas e hospitais. Nessas incursões, é capaz de promover uma verdadeira reviravolta no cotidiano dos pequenos. Vanessa conta que a Viola Mágica, composta por quatro artistas que tocam percussão, violão e flauta, trabalha com um conceito bem interessante e eclético. O resgate das cantigas de roda e das músicas folclóricas que, em determinado momento, podem dar espaço para hits de Saltimbancos a The Beatles. Também passando por canções de animações da Disney e também por músicas próprias. Se estão lidando com adolescentes, tratam de descobrir o time do coração e não tardam em entoar o hino do estimado clube. “Eles riem e se divertem”, se orgulha.

A líder da banda detalha que dentro dos hospitais o grupo não consegue fazer os saraus infantis que costuma promover com as crianças em festas e eventos fora dali. “A gente então vai de quarto em quarto, em todos os corredores, tocando e cantando para cada um deles. No caso das crianças que não podem ter contato físico, nos apresentamos respeitosamente no hall separado, geralmente pela parede de vidro. Dali sabemos que dá para elas escutarem”.

A REAÇÃO DOS PACIENTES É GRATIFICANTE

A presença dos artistas arranca das crianças alguns olhares curiosos. Outros envergonhados, muitos entregues ao momento de alegria, mas nenhum indiferente. “O que posso dizer é que na hora daquele contato eu sinto que a música surte um efeito muito rápido, direto, simples. Ela gera uma energia que beneficia todo o processo de cura. Principalmente em um ambiente que não é fácil. Onde não queremos ver criança nenhuma. E a mínima reação já é especial. Um sorrisinho é gratificante, faz você pensar “que bom que estou aqui”. Dá mais sentido para a vida de todo mundo”.


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