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Covid-19: Entidades criticam burocracia para vacinação de pacientes com câncer
Exigência de prescrição médica têm causado recusas na imunização de pessoas em tratamento oncológico
A exigência de atestado para receber a vacina da Covid-19 tem provocado recusas na imunização de pacientes em tratamento de câncer. Em seu Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação, o Ministério da Saúde alega que o grupo não foi avaliado nos testes dos imunizantes aprovados no Brasil e por isso há a necessidade da prescrição médica para a aplicação. Esse requisito é alvo de críticas por parte de entidades como a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas à Saúde da Mama (Femama) e a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
‘Pacientes oncológicos deveriam ser priorizados na vacinação contra Covid-19, mas o Ministério da Saúde está exigindo um atestado ou prescrição médica para autorizar a vacina mesmo para quem está na faixa etária liberada para vacinação. Em um só dia, recebi mais de dez pedidos de atestado para que as pacientes pudessem se vacinar. Se já é uma barreira para pacientes da rede privada, imagine para quem depende do SUS, que já está sobrecarregado com o tratamento de pacientes com Covid-19’, disse Maira Caleffi, mastologista e presidente voluntária da Femama.
Procurado pela reportagem da Época, o Ministério da Saúde disse que houve um erro de interpretação em alguns estados e que não há a necessidade de mostrar uma prescrição médica para a aplicação. Segundo o órgão, o texto se aplicaria somente para a fase da vacinação em grupos prioritários, caso dos pacientes oncológicos. Mas quem está em tratamento por câncer pode vacinar normalmente obedecendo a fila por idade.
Os testes feitos das vacinas contra a Covid-19 aprovadas no Brasil não contaram com pacientes oncológicos. Mesmo assim, o comitê técnico-científico da Femama garante que não há risco na imunização de pessoas com históricos de câncer e que é desnecessária a exigência do atestado.
Em ofício enviado ao Ministério da Saúde na semana passada, a Femama aponta que mesmo as vacinas que utilizam o vírus vivo, como a fabricada pela Oxford/Astrazeneca, não causam nenhum agravamento em pacientes com câncer, pois ele não tem capacidade de replicação no organismo.
O pedido da Femama tem o apoio da SBOC.
‘Não existe contraindicação para pacientes oncológicos sobre a vacina da Covid-19 e por isso não há necessidade de apresentar o atestado para quem está na faixa etária da vacinação’, disse Clarissa Mathias, presidente da entidade.
Apesar do pedido para que o atestado não seja uma exigência para a vacina, a SBOC pede cuidado no tratamento e que os pacientes oncológicos sigam as orientações dos médicos. ‘A gente considera que o atestado não precisa ser apresentado, mas o tratamento precisa continuar sempre sob supervisão dos médicos’, apontou Clarissa.
Entre as pessoas que tiveram dificuldades para receber a vacina contra a Covid-19 está Maria Aparecida Morandi. Aos 85 anos, ela teve a aplicação rejeitada por não ter levado o atestado médico com a autorização mesmo estando na faixa etária para receber a primeira dose.
‘Eu estava no carro e a enfermeira perguntou se eu tinha câncer. Eu disse que sim e ela me pediu a autorização. Mas eu não sabia qual autorização. Eu nunca tinha ouvido falar disso. Por isso eles não me deixaram receber a vacina. Tive de ligar no consultório e fui lá. Fui com medo e tudo de ser infectada porque o consultório fica em um hospital. Ainda tive de pegar autorização com outra médica porque a minha médica não estava no horário’, disse a gaúcha de Porto Alegre.
Além de pedir a liberação do atestado, a Femama também tenta negociar com o Ministério da Saúde para que pacientes oncológicos possam ser inseridos nos grupos prioritários do Plano Nacional. Atualmente, apenas quem realizou tratamento quimioterápico ou radioterápico nos últimos seis meses será contemplado.
Na mesma linha, o deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP) apresentou um projeto de lei para que qualquer paciente em quimioterapia ou radioterapia também seja considerado prioritário para a vacinação.
Fonte: Época online