A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está revisando as regras para priorização da análise…
Remédio para leucemia segue em falta desde 2º trimestre
Ministério da Saúde havia prometido iniciar no mês passado o envio do dasatinibe
Remédio utilizado contra leucemia, o dasatinibe permanece em falta em alguns estados brasileiros, que dizem aguardar o repasse do Ministério da Saúde. Como já reportado pela Folha, o fármaco apresenta problemas de abastecimento desde o segundo trimestre deste ano.
O medicamento é utilizado para tratar a leucemia mieloide crônica, doença que causa o aumento de glóbulos brancos no sangue, afirma Angelo Maiolino, médico hematologista e coordenador do Comitê de Acesso a Medicamentos da ABHH (Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular).
A distribuição pública do medicamento é centralizada pelo Ministério da Saúde, que o importa e o repassa para as secretarias de Saúde dos estados. Depois disso, cabe a elas entregá-lo aos hospitais regionais, para que os usuários cadastrados possam realizar a quimioterapia oral.
A escassez do dasatinibe na versão de 20 mg é registrada desde o segundo trimestre deste ano, conforme nota técnica do Ministério da Saúde de 8 de setembro. O cenário piorou no terceiro trimestre, quando não houve distribuição na versão de 20 mg e a de 100 mg ficou com pendências.
Em 23 de agosto, a pasta firmou um contrato de aquisição com a farmacêutica Bristol Myers Squibb. A empresa informou que a importação do remédio, processo que envolve uma solicitação do ministério à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), só foi autorizada em 1º de outubro.
Esse atraso fez com que o fármaco só chegasse ao almoxarifado do ministério em 19 de outubro. A previsão para início das entregas, segundo a pasta, seria no dia 22 daquele mês. No entanto, alguns estados reportam que, até agora, não receberam o fármaco.
A Secretaria de Saúde de Mato Grosso do Sul afirmou que “aguarda informações do Ministério da Saúde”, e uma paciente usuária do dasatinibe que retira o remédio no hospital regional do estado disse que não há informação de quando o medicamento estará disponível.
A situação se repete em São Paulo. Segundo a secretaria estadual, o ministério havia informado que o dasatinibe seria entregue na primeira semana deste mês, mas, até então, isso não ocorreu.
O Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) disse que “ainda enfrentamos uma situação de desabastecimento do dasatinibe em alguns estados”.
Procurado para comentar os atrasos, o Ministério da Saúde não respondeu até a publicação reportagem.
Existem outros medicamentos que podem ser utilizados no tratamento da leucemia, como o nilotinibe e o imatinibe. No entanto, a troca de medicação pode não ser uma boa alternativa, porque os medicamentos não são idênticos, afirma o médico Angelo Maiolino.
O hematologista disse que a substituição pode resultar em uma perda na resposta ao tratamento de quimioterapia oral, podendo causar a passagem da fase crônica da doença para a aguda, que é muito mais grave, incurável e pode levar à morte em pouco tempo.
Atualmente, a Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia) contabiliza 42 reclamações feitas por pacientes de diferentes partes do país que utilizam o dasatinibe e não estão com acesso ao remédio.
A situação faz com que seja necessária a normalização da entrega do remédio quanto antes, para não trazer mais problemas aos pacientes, afirma Maiolino.
Como a compra e distribuição é direta pelo Ministério da Saúde, esse pode ser um problema que afetará todo o país se não for sanado o mais rápido possível”, diz o médico.
Entenda por que o dasatinibe é utilizado contra leucemia
O que é o dasatinibe?
O remédio é um inibidor de tirosinoquinase (ITQ), proteína advinda de uma alteração genética em uma célula-tronco e que causa a leucemia mieloide crônica. Além do dasatinibe, existem outros inibidores utilizados no controle da proteína, como o imatinibe e o nilotinibe.
O que é a leucemia mieloide crônica?
É uma doença manifestada quando a tirosinoquinase causa uma produção exagerada de glóbulos brancos que circulam no sangue.
Que problemas a leucemia mieloide crônica traz para o paciente?
Alguns sintomas são fadiga, hemorragias esporádicas e aumento do baço e do fígado. Na fase mais avançada da doença, a pessoa pode morrer.
Como funciona o dasatinibe?
Assim como outros ITQs, o dasatinibe inibe a tirosinoquinase, regulando assim a produção dos glóbulos brancos. Isso faz com que o doente permaneça na fase crônica, em que não há sintomas muito graves, sem evoluir para cenários críticos.
O que acontece se o tratamento for paralisado?
A leucemia pode evoluir da fase crônica para o estágio agudo. Na última fase, há sintomas como anemia, infecções, sangramentos e, em último caso, o óbito.
É recomendada a troca de inibidores?
A troca do medicamento pode diminuir a eficácia do tratamento, resultando em cenários mais graves. A alteração entre inibidores só é recomendada quando o paciente está reagindo mal ao tratamento.