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Especialistas e entidades se reúnem no Congresso HEMO para debater gargalos e propor soluções para o Transplante de Medula Óssea em pacientes com mieloma múltiplo

Encontro promovido pela Abrale, com apoio da ABHH, reuniu representantes do INCA, SBTMO, AMEO e gestores públicos para discutir desigualdades regionais, regulação e qualificação dos centros de TMO no SUS

Durante o Congresso HEMO 2025, realizado em São Paulo, a Abrale promoveu — com apoio institucional da ABHH — uma reunião inédita dedicada a discutir o panorama do Transplante de Medula Óssea (TMO) em pacientes com mieloma múltiplo no Brasil. O encontro contou com a participação de representantes da ABHH, SBTMO, INCA, AMEO, especialistas em hematologia, gestores de centros transplantadores e pacientes, consolidando um espaço técnico e colaborativo de diálogo entre entidades médicas e sociedade civil.

O objetivo foi identificar os principais gargalos da rede de TMO, analisar as desigualdades regionais e construir propostas conjuntas para aprimorar o acesso, a regulação e o cuidado no SUS. Segundo os participantes, o TMO autólogo é uma etapa essencial e custo-efetiva no tratamento do mieloma múltiplo, capaz de prolongar a sobrevida e retardar a necessidade de terapias de alto custo. Ainda assim, o acesso ao procedimento é marcado por grande concentração de centros nas regiões Sul e Sudeste, resultando em longos deslocamentos, dependência do Tratamento Fora de Domicílio (TFD) e atrasos críticos para o início do tratamento.

“O mieloma múltiplo é um dos maiores protótipos de desigualdade social no Brasil. Enquanto no privado há acesso a novas tecnologias, no SUS o transplante que é praticamente a única via terapêutica viável, ainda enfrenta dificuldades para ser realizado”, destacou um dos médicos presentes.

Outro ponto amplamente discutido foi a defasagem diagnóstica: a maioria dos pacientes chega ao sistema de saúde em estágio avançado, muitas vezes já inelegível para o transplante. Dados levantados pela Abrale mostram que, em alguns estados, o tempo de espera supera seis meses, levando ao agravamento da doença e à perda da janela terapêutica.

Além das dificuldades de acesso, os participantes apontaram fragilidades no cuidado pós-transplante, com ausência de protocolos uniformes, falta de equipes multiprofissionais completas e escassez de incentivos institucionais. A integração de dados também foi considerada urgente: atualmente, não há base nacional consolidada que reúna informações sobre elegibilidade, tempo de espera e resultados clínicos. As entidades defenderam a criação de indicadores padronizados, articulando dados entre o Sistema Nacional de Transplantes (SNT), sociedades médicas e Ministério da Saúde.

“Carecemos de dados sobre pacientes em tratamento e diagnóstico. O registro ainda é inadequado e, mesmo no sistema público, há falhas no preenchimento e na padronização das informações”, alertou o Dr. Ricardo Bigni.

O debate reforçou ainda a importância de revisar a política de TMO à luz da Política Nacional para a Prevenção e Controle do Câncer (PNPCC), reconhecendo o transplante autólogo como componente estruturante da linha de cuidado para mieloma múltiplo. A atualização dos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDTs) também foi apontada como prioridade, já que o documento atual “ainda não reflete a realidade do tratamento contemporâneo para a doença”.

Durante a fala da SBTMO, destacou-se a necessidade de uma política nacional específica para o TMO autólogo em mieloma múltiplo, com parâmetros de habilitação e financiamento atualizados. O Dr. Fernando Barroso sintetizou o sentimento comum do grupo:

“O transplante autólogo para mieloma múltiplo é uma intervenção barata e incorporada há mais de 30 anos. Precisamos sair da inércia.”

Entre os encaminhamentos e propostas do encontro, destacam-se:

  • Criação de um programa de mentoria e capacitação multidisciplinar, com apoio do Ministério da Saúde e das sociedades médicas, para qualificar novos centros transplantadores nas regiões Norte e Nordeste;
  • Solicitação, via Lei de Acesso à Informação (LAI), do número de pacientes com mieloma múltiplo em fila de transplante em cada centro do país;
  • Articulação com CACONs e UNACONs para coleta direta de dados em caso de ausência de registros oficiais;
  • Dar visibilidade às histórias dos pacientes, sensibilizando legisladores e gestores para a urgência de ampliar o acesso;

O advogado Pedro Toledo, representante da Abrale, reforçou a necessidade de que o mieloma múltiplo seja tratado como prioridade na PNPCC:

“Não se trata apenas de autorizar o procedimento, mas de garantir uma linha contínua de cuidado. O paciente não pode ficar à mercê da sorte ou da regulação estadual.”

Ao final, as instituições reafirmaram o compromisso em fortalecer a rede de TMO para mieloma múltiplo, consolidando uma agenda conjunta de advocacy e cooperação técnica voltada à ampliação do acesso, à qualidade assistencial e à integralidade do cuidado no SUS.

Por Políticas Públicas e Advocacy ABRALE

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