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Após impasse com troca de medicação para Leucemia, Boldrini fica sem remédio e inicia importação por conta

Ministério da Saúde passou a importar produto fabricado por um laboratório chinês. Hospital, que é referência no tratamento do câncer infantil, critica a eficácia da medicação e realizou teste que provam impurezas.

Por Marcello Carvalho, G1 Campinas e região

Após a polêmica com a troca do medicamento importado pelo Ministério da Saúde para o tratamento da Leucemia Linfóide Aguda (LLA), o Centro Boldrini, em Campinas (SP), referência na América Latina para o combate ao câncer infantil, ficou sem o estoque de remédio que era usado anteriormente e decidiu não usar a nova droga comprada pelo governo federal. Segundo a unidade, o produto não tem comprovação de eficácia e não foram realizados testes suficientes em humanos. Por isso, o hospital já fez uma primeira compra do medicamento por conta própria.

De acordo com especialistas, cerca de 4 mil crianças precisam de um componente chamado asparagina, que tira o alimento das células malignas da LLA. Até o início deste ano, o Ministério da Saúde importava a Asparaginase de laboratórios alemães e americanos, cuja eficiência é de 90%, segundo testes. No entanto, o impasse começou quando, no início do ano, a pasta decidiu comprar o remédio de um fabricante chinês.

O Ministério da Saúde compra o remédio e distribui, através do Sistema Único de Saúde, para os hospitais especializados no tratamento do câncer infantil. A principal crítica dos especialistas, laboratórios e da Sociedade Brasileira de Oncologia à Leuginase – nome de mercado da Asparaginase chinesa – é de que não existem estudos que comprovam a eficiência e a eficácia dela.

Na última semana, o estoque da asparagina alemã chegou ao fim no Boldrini e a presidente e fundadora da instituição, Silvia Brandalise, afirmou ao G1 que iniciou a importação do medicamento por conta para garantir o tratamento à crianças. O hospital, que se mantém através de doações, vai tentar conseguir recursos para a compra de 100 frascos por mês do remédio, o que daria uma despesa de R$ 500 mil mensais para obter os produtos. A previsão é que os primeiros frascos cheguem nesta semana.

silvia

“A possibilidade de usar a Leuginase está descartada. Vamos importar o remédio que nós temos certeza da eficácia por conta própria. Já importamos 18 frascos, que ainda não chegaram por conta da burocracia brasileira para a importação de medicamentos. Mas vamos aguardar chegar e buscar ajuda para importar mais frascos. A criança brasileira não pode ser usada para testar um medicamento que não existe estudos sobre os efeitos que ele tem”, disse a médica.

Análise em laboratório

 

No último domingo (30), o Fantástico, da TV Globo, conseguiu com exclusividade um laudo técnico de um exame encomendado pelo Boldrini para conhecer a composição da Leuginase. De acordo com o documento, o medicamento possui 398 impurezas, enquanto a asparaginase alemã tem apenas três contaminantes. O teste foi feito pelo Laboratório Nacional de Biociências (LNBio).

O Centro Boldrini encomendou novos testes à duas universidades brasileiras e um laboratório dos Estados Unidos. O hospital vai pagar US$ 1,5 mil por frasco. “Vamos realizar outros três testes para provar que estamos buscando informações sobre o medicamento em várias frentes. O objetivo é convencer o Ministério da Saúde que esse remédio não pode ser usado e que a importação da Leuginase é um crime e uma calamidade pública”, informou Silvia Brandalise.

 

Ministério da Saúde, Anvisa, Laboratório…

 

O Ministério da Saúde informou que um novo teste no medicamento também será feito pela Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) e que a asparaginase chinesa já é usada em 11 estados brasileiros (Amapá, Bahia, Goiás, Maranhão, Pará, Piauí, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima e São Paulo). De acordo com a pasta, até agora, não houve nenhum efeito diferente do esperado.

Além disso, o Ministério da Saúde afirmou, em nota enviada ao G1, que “a compra deste ano seguiu os mesmos critérios técnicos e embasamentos científicos dos anos anteriores”. Já o LNBio também emitiu um comunicado onde explica que os testes realizados no remédio são “preliminares e não conclusivos”.

A empresa uruguaia Xetley S.A, representante do laboratório Beijing SL Pharmaceutical – fabricante da Leuginase – disse que vai aguardar o resultado da análise da Fiocruz. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a importação do medicamento pelo Ministério da Saúde, mas informou que a responsabilidade da qualidade do produto é do importador.

leuginase

 

Fonte: G1

 

 

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