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9º Big Data em Oncologia debate a jornada do câncer em números

No dia 6 de novembro aconteceu, no Rio de Janeiro, a nona edição do Fórum Big Data em Oncologia, evento idealizado e organizado pelo Movimento Todos Juntos Contra o Câncer e Observatório de Oncologia, e que contou com a parceria da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Centro de Estudos Estratégicos (CEE-Fiocruz).

O tema central das discussões foi “Jornada do Câncer em Números” e especialistas na área trouxeram dados e informações essenciais sobre a trajetória do paciente onco-hematológico no sistema de saúde e também a respeito do câncer colorretal.

Fernanda Mussolino, CEO da Moka Info e especialista em dados abertos em saúde, apresentou um levantamento sobre as diferenças regionais no diagnóstico e tratamento do câncer colorretal a partir de um recorte nos estados da Bahia (BA) e Paraná (PR), que possuem uma quantidade próxima de habitantes.

De acordo com o estudo, o Paraná tem um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) maior que a Bahia, mas apresenta 1,3 vezes mais novos casos de câncer.

Falando especificamente do câncer colorretal, os hábitos cotidianos estão conectados ao seu surgimento. Os dados mostraram que o Paraná apresenta maior uso de cigarro, enquanto a Bahia consome em maior quantidade bebidas alcoólicas. Ambos os Estados têm dados parecidos quanto ao excesso de peso e obesidade, entre 65%-75% da população. No Paraná, as pessoas praticam mais atividades físicas e também se alimentam de maneira mais saudável, quando comparado à Bahia, onde só 23,7% dos indivíduos relataram consumir hortaliças diariamente.

O levantamento também trouxe uma informação preocupante: na Bahia e no Paraná, a colonoscopia, exame padrão ouro para o diagnóstico deste tipo de tumor, ainda é pouco realizada, gerando cerca de 80% de diagnósticos em estadiamentos avançados (III e IV).

“O Paraná realizou 1,4 vezes mais colonoscopias do que a Bahia. Em ambos os estados, 55% dos exames foram feitos por pessoas entre 50 e 69 anos. Os tipos de tratamento realizados também mostram que os diagnósticos, especialmente no estado da BA, estão acontecendo já em estadiamentos III e IV. 0,38% do total de pacientes únicos tiveram acesso aos medicamentos com valores superiores à APAC no Paraná e na Bahia foram 0,14%. Vemos grandes vazios nas dimensões de cuidados”, disse Fernanda.

Dr. Luiz Santini, médico oncologista e pesquisador associado à Fiocruz, pontuou que é preciso sempre refletir sobre as diferenças regionais, sociais, econômicas e culturais do Brasil, que refletem também nos dados.

“A nova Política já vem sendo construída há um tempo para dar conta desse grande desafio que é o controle do câncer. O câncer colorretal é um bom descritor da jornada do paciente no sistema de saúde, porque ele permite avaliar todas as etapas, como a prevenção. E ainda assim vem crescendo em incidência e em mortalidade.  Hoje, o SUS não adota a diretriz de rastreamento para este tipo de câncer, mas é possível, mesmo assim, melhorar a capacidade do diagnóstico. Ou seja, diminuir o tempo entre o surgimento dos sintomas e a realização dos exames. Porém, falta capacitação profissional”, pontuou.

O câncer colorretal na população mais jovem, um cenário que já vem se apresentando no país, foi abordado pela Dra. Bárbara Sodré, coordenadora da Oncologia no Hospital Marcos Moraes.

“Atualmente, temos mais fácil acesso aos alimentos ultraprocessados, o que facilita vermos o aumento da obesidade, em especial na população mais jovem. E nessa faixa etária, o câncer colorretal pode ser ainda mais agressivo. Implementar a colonoscopia é um desafio nos centros de tratamento. O preparo não é fácil, precisamos de profissionais especializados e também uma patologia para fazer o diagnóstico”.

Para Dra. Mariana Boroni, chefe do laboratório de Bioinformática e Biologia Computacional do INCA, a falta de conhecimento sobre os sinais e sintomas ajuda no diagnóstico em estadiamentos avançados.

“80% dos casos de câncer colorretal são feitos em estadiamentos III e IV, como vimos no estudo. E isso reflete a falta de conscientização da população sobre os sintomas e também a respeito da necessidade de rastreio. Precisamos mapear as pessoas que têm fatores de risco maiores. E também é necessário incentivar a medicina de precisão e investir nas pesquisas que possam detectar os marcadores desse tipo de câncer”, reforçou.

Jornada onco-hematológica no Brasil

Nina Melo, coordenadora de pesquisa da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) e do Observatório de Oncologia, apresentou estudo sobre como vem acontecendo a jornada das pessoas que têm um câncer do sangue, como as leucemias, os linfomas e o mieloma múltiplo.

Os dados mostram que os pacientes de linfoma demoraram 105 dias para receberem o diagnóstico, tempo muito acima do preconizado por lei; de mieloma múltiplo, 46 dias. As leucemias não tinham informações atualizadas no Registro Hospital de Câncer (RHC).

O tempo para iniciar o tratamento, em pacientes de linfoma, demora cerca de 62 dias; mieloma múltiplo, 59 dias; mielofibrose, 85 dias. Todos bem acima da Lei dos 30 dias. Nas leucemias, a maior parte dos pacientes (53%) têm início no prazo de 30 dias.

Foram 51 mil pacientes que precisaram internar, e a maioria deles tratam LNH (31,3%), leucemia aguda (25,6%) ou mieloma múltiplo (18,4%).

O transplante de medula óssea foi realizado em 4.777 pacientes, entre 2021 e 2023. Linfomas correspondem a 19,9%, leucemias 20,7% e mieloma múltiplo, 57,8%. As leucemias representam 40% dos óbitos por cânceres do sangue, com aumento significativo em 2023.

Para Dr. Ricardo Bigni, chefe do Serviço de Hematologia do INCA, estes dados mostram a ineficiência do sistema.

“O tempo para o diagnóstico e início do tratamento difere entre as doenças e dentre os motivos pode estar a rapidez da evolução do câncer, como no caso das leucemias agudas. Mas temos os gargalos para ter acesso ao exame, ao laudo, ao encaminhamento para o especialista. É tudo fragmentado e gera demora na realização dos procedimentos, além de impactar nas linhas de cuidado”, comentou.

Dr. Angelo Maiolino, presidente da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), trouxe a dificuldade em se ter dados oficiais sobre o mieloma múltiplo, no Brasil.

“Não temos dados suficientemente confiáveis para a tomada de decisões. Não consigo entender porque um CID único, do mieloma múltiplo, não pode ser registrado e catalogado? Inclusive, o INCA também precisa fazer um trabalho para separar os CIDs, porque os subtipos de linfomas e de leucemias têm suas particularidades. São doenças completamente distintas e que precisam ser analisadas de forma diferente”.

Dra. Carla Boquimpani, chefe de Hematologia da Oncoclínica CTO, reforça que sem dado, o gestor não consegue ter uma prática inteligente.

“Sem dado, você é gestor cego e sua prática não é inteligente. Mas dado bem feito, bem coletado, ainda é um desafio. Os profissionais querem atender o seu paciente, e atender bem. Os dados chamam atenção de apenas alguns, porque nem todos se enxergam como gestores. E também tem a questão que nem todos os serviços são informatizados, então o profissional não consegue inserir os dados no prontuário eletrônico e preenchem a APAC à mão”, finalizou.

Assista na íntegra o 9º Fórum Big Data em Oncologia

https://www.youtube.com/watch?v=0TLxBHrjDy0

Fonte: Tatiane Mota – Comunicação Abrale

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