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Cigarro eletrônico pode comprometer avanços na luta contra o tabagismo

O avanço no combate ao tabagismo corre o risco de sofrer um revés caso a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) libere sem controle o uso dos dispositivos eletrônicos para fumar

A campanha contra o tabagismo no Brasil foi vitoriosa ao reduzir o número de fumantes e, consequentemente, as doenças relacionadas ao cigarro. O percentual de adultos fumantes vem caindo de forma expressiva nas últimas décadas devido às ações desenvolvidas pela Política Nacional de Controle do Tabaco.

De acordo com a Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN), 34,8% da população acima de 18 anos era fumante em 1989. Catorze anos depois, a queda era de mais de 12 pontos percentuais, para 22,4%, segundo a Pesquisa Mundial de Saúde (PMS). Em 2008 a Pesquisa Especial sobre Tabagismo já registrava um percentual de 18,5%. Os dados mais recentes disponíveis são de 2019: 12,6% de adultos fumantes, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde.

A associação do cigarro à elegância ou ao glamour feita pelas antigas propagandas deu lugar no imaginário brasileiro ao desenvolvimento de aproximadamente 50 doenças, entre elas vários tipos de câncer, em particular de pulmão, outros males do aparelho respiratório, como enfisema pulmonar, e doenças cardiovasculares – caso de infarto agudo do miocárdio, hipertensão arterial e acidente vascular cerebral.

O avanço no combate ao tabagismo corre o risco de sofrer um revés caso a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) libere sem controle o uso dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs), conhecidos como cigarros eletrônicos. Transmite-se a impressão de que sejam menos perigosos à saúde, embora sociedades médicas alertem sobre os riscos.

A Resolução 46, de 28 de agosto de 2009 – que proíbe a comercialização, importação e propaganda de quaisquer dispositivos eletrônicos para fumar que possam ser usados como alternativa para o tratamento do tabagismo -, tem o apoio da Associação Médica Brasileira, da Sociedade Brasileira de Pediatria, da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, do Instituto Nacional de Câncer e da Associação Mundial Antitabagismo, entre outras entidades.

Uma nota técnica da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas destaca que a face mais perversa do marketing dos DEFs é a falsa ideia de que sejam inofensivos à saúde, da mesma forma que se tentou iludir a população décadas atrás com as propagandas de cigarros light. Não existe comprovação de que o uso do cigarro eletrônico seja uma alternativa eficaz para reduzir o tabagismo. Em boa parte dos casos, o usuário não abandona o cigarro convencional enquanto usa o eletrônico, aumentando a ingestão de nicotina. Os prejuízos à saúde continuam.

Qualquer decisão da Anvisa precisa destacar todos os danos que os DEFs podem trazer – a exemplo das advertências nos maços de cigarro – e prever algum controle sobre seu consumo. O mínimo a exigir é que o cidadão seja bem informado sobre os riscos que assume.

 

Fonte: O Globo

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