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Mieloma Múltiplo em Foco
Desafios e avanços no diagnóstico e tratamento são temas de discussão no seminário realizado pela Abrale, na Fiesp
O evento Mieloma Múltiplo em Foco, organizado pela Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), aconteceu na última sexta-feira (7/06), na FIESP.
Esse tipo de câncer do sangue ocorre devido a uma falha genética no momento da produção de células sanguíneas na medula óssea e tem maior incidência em pessoas acima dos 50 anos.
De acordo com dados levantados pela Abrale no Panorama do Mieloma Múltiplo, entre os anos de 2018 a 2022, foram realizados mais de 300 mil procedimentos, sendo a quimioterapia de primeira linha o principal. O custo médio foi de R$ 1500,00. Também foram necessárias cerca de 35 mil internações para o tratamento da doença. Neste período, ocorreram 13 mil óbitos.
“A Lei dos 60 Dias não foi cumprida em quase 80% dos casos, e isso também chama atenção. A demora, no sistema público de saúde, chegou a 178 dias. 71% dos pacientes passou por duas ou mais consultas para descobrir o câncer. A falta de informação, por parte da população e também das equipes de saúde, acaba por espelhar nestes dados aqui representados”, disse Nina Melo, coordenadora de pesquisa da Abrale ao apresentar o estudo.
O mieloma múltiplo apresenta sintomas que podem ser parecidos com os de outras doenças, especialmente as que atingem os idosos. A osteoporose é uma delas, por conta das dores e/ou fraturas ósseas. E isso acaba por prejudicar o diagnóstico em tempo adequado. Mas a Dra. Fernanda Lemos, hematologista no HCor, trouxe uma informação curiosa e que exige atenção: o paciente de mieloma aqui no Brasil é mais jovem.
“Nosso paciente tem em torno de 63 anos, mas no meu consultório atendo pessoas mais jovens, com 40 anos, por exemplo. Precisamos desmistificar o tabu de que o mieloma só vai acontecer nos idosos. Isso fará importante diferença no momento do diagnóstico e tratamento”, ressaltou a médica.
SUS x PLANOS DE SAÚDE – Desafios no tratamento do mieloma múltiplo
As opções terapêuticas e as diferenças no acesso entre o sistema público e privado de saúde também foram destaque no evento.
Para o Dr. Breno Gusmão, hematologista na BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, o Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto conceito, é um dos melhores sistemas do mundo. Mas o problema é que não se atualiza em tempo adequado.
“Temos uma saturação do sistema desde as unidades básicas. E essa é uma disparidade muito grande, porque é a partir daí que muitos pacientes demoram para as consultas, realização de exames, início do tratamento e acesso às novas drogas. E em outras regiões, que não São Paulo, as dificuldades logísticas são ainda maiores no acesso ao especialista. 178 dias até o diagnóstico é algo grave. Com o diagnóstico precoce e acesso a tratamentos de qualidade, incluindo a atualização dos medicamentos, o paciente de mieloma pode voltar às suas atividades. Ele vai conseguir contribuir melhor, inclusive, no próprio tratamento”, salientou o médico.
Dra. Fernanda Lemos lembrou que o transplante de medula óssea (TMO) ainda é opção essencial em muitos casos de mieloma, mas são poucos os hospitais preparados para realizar o procedimento.
“Para mim, acesso é tornar acessível o que temos disponível e não necessariamente somente às novas drogas que chegam ao mercado. O TMO é um grande exemplo, mas nem todos os centros de tratamento estão preparados para realizá-lo. Precisamos olhar para a defasagem do sistema público. Nós queremos o melhor aos pacientes”, pontuou.
Dr. Ricardo Bigni, chefe do serviço de Hematologia e pesquisador do Instituto Nacional de Câncer (INCA), apontou a falta de conhecimento técnico como uma das questões para que novas tecnologias não sejam aprovadas para uso no SUS.
“Quando não temos uma nova incorporação, nos sentimos derrotados. Quando uma nova tecnologia é vista de forma positiva pela CONITEC, muitas vezes acaba, posteriormente, passando por uma nova aprovação, que será feita por uma mesa que não é técnica e que, provavelmente, não utiliza o SUS. E isso faz a diferença para a não aprovação. O sistema público de saúde é diverso. Precisamos refletir a respeito”, falou o hematologista.
O paciente no centro, sempre!
Dra. Catherine Moura, médica sanitarista e CEO da Abrale, destacou os cuidados integrais na jornada oncológica.
“A atenção ao paciente com mieloma múltiplo é prioridade na Abrale. Nosso trabalho objetiva um acesso mais equânime e em tempo oportuno ao diagnóstico e tratamento, mas também ao cuidado integral, essencial para que o paciente possa manter sua qualidade de vida. A cura não é o único objetivo, pensando em um câncer crônico como o mieloma. Mas o bem-estar sim”.
Rogério Oliveira tem mieloma múltiplo e decidiu fundar a ABRAMM, justamente para empoderar cada vez mais o paciente.
“Em 2011, comecei a apresentar um formigamento nos pés, e eu resistia em procurar um médico. Achava que era normal, mas não passava. Fui em uma geriatra, e ela comentou que poderia ser algo na minha coluna. Na ressonância, apareceu algumas lesões. Fui encaminhado para um neuro e um oncologista. Fui primeiro no onco, e ele disse que tinha grandes chances de ser algum câncer do sangue. Fiz novos exames e quando passei no hematologista, ele sugeriu a biópsia da medula. E veio o diagnóstico do mieloma. Logo em seguida, comecei a quimio. Decidi abrir a associação porque me vi perdido, sem saber o que era mieloma, sem conhecer outras histórias. E lá atrás, em 2011, não tinham essas informações, especialmente de maneira mais acessível. Achei que era importante poder oferecer esse conhecimento e troca para os demais pacientes”, explicou.
Dra. Catherine reforçou a importância da participação social para que as mudanças na Saúde sejam feitas.
“As transformações também partem do paciente. É preciso que sejam participativos, que estejam informados, que busquem fazer parte da diferença. A participação social é uma realidade no sistema público, e também podemos lutar para que novos espaços sejam criados”, reforçou a médica e CEO da Abrale.
A Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer é uma dessas conquistas.
“Ela traz pontos relevantes com relação ao diagnóstico, tratamento e também qualidade de vida. Tivemos avanços importantes na última década. No cenário político, isso mostra aos gestores que queremos a Oncologia como uma prioridade. E nos traz uma esperança para que a Saúde possa caminhar com equidade”, finalizou Luana Lima, gerente de políticas públicas e advocacy da Abrale.
Por Tatiane Mota – Comunicação Abrale