No dia 6 de novembro aconteceu, no Rio de Janeiro, a nona edição do Fórum…
Touca inglesa: tecnologia que reduz queda de cabelo durante quimioterapia chega ao SUS no Rio
Antes disponível apenas em redes particulares, item passa a ser oferecido no Hospital do Câncer III, do Inca; técnica resfria o couro cabeludo e diminui o impacto dos medicamentos nas células capilares
Uma das maiores preocupações de quem faz quimioterapia é a perda de pelos e cabelo, resultado da ação dos medicamentos nas células durante tratamento contra câncer. Um recurso que pode evitar ou reduzir essa ocorrência é a crioterapia capilar com o uso da touca inglesa, que pela primeira vez é oferecida em um hospital ligado ao Sistema Único de Saúde (SUS). O centro oncológico beneficiado é o Hospital do Câncer III, do Instituto Nacional de Câncer (Inca), na cidade do Rio de Janeiro.
O produto tem como base a crioterapia, técnica que reduz a temperatura do couro cabeludo, entre 18ºC e 22ºC, a fim de proteger a região dos efeitos nocivos do tratamento quimioterápico. Uma vez que os remédios têm como alvo as células que se multiplicam rapidamente, eles não conseguem diferenciar as cancerígenas das saudáveis. Dessa forma, as células capilares, que têm essa característica, também são afetadas. O objetivo do resfriamento é deixá-las “menos ativas” para que não sofram tanto com a intervenção. A terapia não é indicada para os tipos de câncer hematológicos ou para alguma alergia ao frio.
A tecnologia estava disponível apenas em redes e clínicas particulares de saúde em 14 Estados e no Distrito Federal. A incorporação aos serviços do hospital carioca, especializado em tratamento do câncer de mama, ocorre por meio de doação da Paxman, empresa britânica que produz o equipamento. Com isso, a mesma técnica usada nos melhores hospitais do mundo estará à disposição dos pacientes desse centro oncológico. No ano passado, o Estadão contou a história por trás da criação desse aparelho, que teve como motivação o câncer de mama sofrido pela mulher do criador, que ficou devastada ao perder os cabelos no início dos anos 1990. Curiosamente, o desenvolvimento do aparelho teve como base o processo de refrigeração de cervejas.
O resfriamento do couro cabeludo para prevenir a queda de cabelo induzida pela quimioterapia tem sido usado por mais de 50 anos. Vários métodos foram utilizados, como bolsas de gelo, capacetes com gel e dispositivos de refrigeração do tipo ar-condicionado. A primeira touca da Paxman foi lançada em 1997, após anos de pesquisas e testes clínicos para comprovar resultados e eficácia.
Pela literatura médica, a melhora da queda de cabelo com a crioterapia fica em torno de 50% quando medicações mais fortes são usadas e 92% nas menos agressivas. Tudo depende da quantidade de quimioterápicos e sessões do tratamento. A eficácia é determinada, ainda, pela não necessidade do uso de adereços, como perucas e lenços. Estudos da fabricante apontam que, de cada cem pacientes, apenas dois desistem de usar o equipamento devido ao frio provocado no couro cabeludo.
Médicos e pacientes avaliam que evitar a queda de cabelo não é apenas uma questão de vaidade e autoestima, até porque a perda dos fios pode ser, psicologicamente, tão ou mais impactante do que o diagnóstico de câncer.
“É muito mais que um cuidado com autoestima. É a possibilidade de oferecer às pacientes do SUS mais uma tecnologia de ponta. Elas merecem. O tratamento não se aplica a todos os casos, mas pode amenizar a queda e preservar os cabelos em diversas situações”, destaca Marcelo Bello, diretor do Inca III.
Funcionamento da touca inglesa
A touca inglesa fica ligada a um sistema de resfriamento que mantém um líquido circulante a -4ºC, mas a temperatura no couro cabeludo fica em torno de 20ºC. O acessório é colocado na cabeça do paciente cerca de 30 minutos antes do início da sessão e deve ser mantido por uma hora e meia após o procedimento, a depender do protocolo adotado, que é individual. Com a diminuição de temperatura, o fluxo sanguíneo também é reduzido nos folículos capilares, o que faz a absorção dos fármacos ser menor.
Fonte: Estadão | Saúde – Ludimila Honorato, O Estado de S.Paulo