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Desinformação é obstáculo para médicos e pacientes com câncer
Especialistas discutem formas de prevenir epidemia de notícias falsas nas redes sociais
A saúde tem sido uma das áreas mais afetadas pela recente onda de notícias falsas produzidas nas redes sociais. Para André Biernath, repórter de ciência e saúde da BBC Brasil, elas podem ser fatais para aqueles que acreditam nos conteúdos.
O jornalista foi um dos palestrantes do painel Câncer Também se Combate com Informação, que fez parte do 8º Congresso Digital Todos Juntos Contra o Câncer, entre 20 e 24 de setembro. A mediadora foi Camila Tuchlinski, jornalista do Estado de S. Paulo.
Um artigo publicado na revista Science em 2018, feito por pesquisadores do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), mostrou que as notícias falsas são 70% mais compartilhadas do que as verdadeiras.
O repórter da BBC diz que os especialistas apontam três fatores que explicam as causas desse fenômeno. O primeiro é a atratividade das notícias, que aparecem em momentos convenientes, com conteúdo que chama a atenção de quem está lendo.
Elas são, depois, impulsionadas pelo compartilhamento por pessoas em grupos de Whatsapp e outras redes. E, além disso, obedecem a uma lógica dos aplicativos de dar visibilidade aos posts com maior engajamento, sem se preocupar com a veracidade deles.
Para a médica Regina Chamon, do Centro de Oncologia Especializada, os profissionais da saúde tem um papel fundamental para evitar que esse tipo de informação cause danos aos pacientes que estão lendo, principalmente àqueles com câncer.
Chamon afirma que médicos têm a responsabilidade de transmitir o que é verdadeiro e que devem usar a criatividade para tornar mais atrativo determinado assunto.
‘Você não precisa gravar um vídeo se aquilo não tem a ver com a sua personalidade, mas você pode trazer informações de uma maneira muito autêntica e que respeite quem você é como profissional’, diz.
Muito do que a imprensa tem feito ultimamente é ‘enxugar gelo’, na visão de André Biernath. Ainda que existam esforços de jornalistas para checar e refutar algumas mentiras compartilhadas, os conteúdos falsos continuam tendo muito mais engajamento.
Por isso, diz ser necessário agir no momento certo: não atuar muito cedo, para não atrair atenção para a notícia falsa, nem muito tarde, para não correr o risco de não ser ouvido. ‘O nosso desafio enquanto produtores de conteúdo é encontrar esse ponto de inflexão da curva.’
Pensando em prevenir esse tipo de informação e prestar assistência aos diagnosticados, a Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia) tem produzido matérias e outros materiais que são gratuitos para qualquer paciente brasileiro cadastrado na associação.
Não somos só um canal de informação, mas um canal de apoio para o paciente. Não queremos só jogar a informação, mas ouvir o que ele tem a dizer’, explica Tatiane Mota, coordenadora de comunicação da Abrale.
Os canais da associação já contam com mais de 2,6 milhões de leitores e mais de 300 mil visitas mensais.
Pensando, também, em um diálogo mais eficaz com a sociedade, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) tem investido em comunicação. A instituição desenvolve campanhas, ações e publicações na mídia institucional, assim como em veículos externos.
Marise Mentzingen, chefe do serviço de comunicação social do Inca traz como exemplos as campanhas sobre o câncer de mama, o Dia Mundial do Câncer e a doação de sangue durante feriados.
Mentzingen conta que o instituto desde 2018 já debate a desinformação e a relação delas com doenças como o câncer. ‘A fake news em saúde é mais cruel do que qualquer outra fake news.’
Para Biernarth, esse tipo de obstáculo deve ser combatido não só por pessoas, mas também com a ajuda de robôs. ‘A informação correta, atualizada, contextualizada e ponderada tem o potencial de salvar vidas’, diz.?
8º Congresso TJCC (Todos Juntos Contra o Câncer)
Quando de 20 e 24 de setembro
Onde assistir no site congresso.tjcc.com.br
Fonte: Folha de S. Paulo / equilibrioesaude – Paulo Ricardo Martins