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Entenda o que é linfoma não-Hodgkin, câncer que vitimou o jornalista Artur Xexéo
Veja os sintomas e tratamentos da doença
Com a morte do jornalista e escritor Artur Xexéo, de 69 anos, em decorrência de um linfoma não-Hodgkin, as dúvidas sobre a doença reapareceram. O Diário do Nordeste ouviu médicos especialistas para esclarecerem sobre o tema.
Um linfoma é um câncer que atinge o sistema linfático – parte do sistema imunológico que atua no combate a doenças. Integram o sistema linfático os linfonodos, timo, baço, amígdalas, a rede de pequenos vasos e o tecido linfático – presente em todo o corpo.
O linfoma não-Hodgkin se espalha de maneira não ordenada e é definido como um grupo de mais de 80 tipos de câncer, segundo a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale).
Já o linfoma Hodgkin é um tipo de câncer caracterizado pelo crescimento ordenado. A doença se espalha de um grupo de linfonodos para outro, por meio dos vasos.
A onco-hematologista Paola Torres, professor de Hematologia de Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Unifor, explica que o nome da doença vem do médico que a identificou primeiramente, Thomas Hodgkin.
Com a evolução da medicina, o que aprendemos desde o tempo de Hodgkin para cá, é que essa doença que Hodgkin descreveu era um câncer. Esse câncer acometia o sistema linfático e nem todo linfoma tem as características descritas inicialmente por Hodgkin”, explica Torres.
A maioria dos casos de linfoma registrados no Brasil é do tipo não-Hodgkin, segundo a especialista. E há semelhanças entre as duas classificações.
“A principal característica do linfoma na maioria das vezes é o aumento do tamanho e do volume de linfonodos, que são as ínguas. E os locais onde o linfoma mais aparece é onde essas ínguas são mais aparentes, que é no pescoço, nas axilas e na virilha. Mas a gente pode ter linfoma em qualquer lugar do organismo, porque é uma doença do sangue”, diz Paola Torres.
Classificação
A extensão do câncer não-Hodgkin e o tipo de célula afetada permitem a classificação, após o diagnóstico.
Os linfomas são divididos por linfomas de células B, linfomas de células T e linfomas de células NK. O primeiro é o mais comum, correspondendo a 85% dos casos.
Veja os principais tipos, conforme divisão por crescimento:
Linfoma difuso de grandes células B: é o tipo mais comum, com 30% dos casos registrados. Há crescimento rápido em órgãos como intestinos, ossos, cérebro, medula ou em um gânglio linfático. Cerca de 75% dos pacientes reagem bem ao tratamento e deixam de apresentar sintomas
Linfoma anaplásico de grandes células: é mais comum em jovens, incluindo crianças. A doença começa nos gânglios e pode atingir a pele, respondendo bem à tratamento com quimioterapia
Linfoma de Burkitt: é um linfoma de progressão muito rápida e 90% dos pacientes são homens na faixa dos 30 anos de idade. A quimioterapia agressiva cura metade dos pacientes
Linfoma de zona marginal nodal: tipo raro, mais registrado em mulheres mais novas. A doença pode atingir a medula óssea e tende a ficar restrita aos gânglios. A progressão é lenta e há grande chance de cura
Além disso, é possível classificar os linfomas em dois grandes grupos, segundo a Abrale. Os linfomas do tipo indolente desenvolvem ao longo dos anos e têm crescimento lento. Em alguns casos, é possível esperar e acompanhar a doença, sem dar início ao tratamento.
Já os de tipo agressivo têm crescimento acelerado e podem dobrar de tamanho em semanas. Há necessidade de tratamento imediato
Sintomas e sinais
A Abrale aponta que nos últimos 25 anos, o número de casos de linfomas não-Hodgkin dobrou. O crescimento foi maior em pessoas acima dos 60 anos e não tem motivação definida.
O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que 12.030 casos de linfoma não-Hodgkin foram registrados em 2020, sendo 6.580 em homens e em 5.450 mulheres. Em relação a casos fatais, em 2019 foram registradas 4.923, 2.695 sendo homens e 2.228 mulheres.
Apesar da divisão em subtipos, os especialistas descrevem sinais que se aplicam de modo geral. Conforme a Abrale, os principais sinais são:
- Aumento do baço – esplenomegalia
- Perda de peso sem motivo aparente
- Febre
- Coceira na pele
- Suor noturno
- Fadiga
- Aumento dos linfonodos, especialmente no pescoço, virilha e axila
A detecção do câncer é realizada com exames clínicos, laboratoriais e radiológicos. Durante consulta médica, o especialista pode analisar regiões em que os nódulos linfáticos são mais fáceis de detectar, como axilas, pescoço e virilhas.
Além disso, devem ser solicitados exames para confirmar o diagnóstico:
- Biópsia – linfonodo é retirado cirurgicamente e encaminhado para análise no laboratório
- Tomografia computadorizada – exame de imagem identifica se algum linfonodo ou órgão do seu corpo está aumentado
- Ressonância magnética – exame de imagem por ondas eletromagnéticas que permite avaliação dos órgãos internos de uma maneira mais abrangente
- Pet Scan – mede variações nos processo bioquímicos e identifica se crescimento no gânglio linfático é benígno ou cancerígeno
- Biópsia e aspiração de medula óssea – retira-se pequena amostra da medula óssea ou do sangue da medula óssea para definir se região foi afetada
Tratamento
Segundo a Abrale, as chances de cura de linfomas não Hodgkin estão entre 60 e 70%. O diagnóstico em estágio iniciais é importante para o sucesso do tratamento. Veja as principais formas de tratamento:
- Quimioterapia – Tratamento oral ou aplicado no sangue com medicamentos extremamente fortes, para destruir ou controlar as células doentes. A administração é feito em ciclos, com períodos de recuperação dos efeitos colaterais
- Radioterapia – Tratamento por radiações ionizantes para destruir e inibir o crescimento das células anormais
- Imunoterapia – Administração de anticorpos monoclonais, que leva o sistema imunológico a reconhecer e atacar as células doentes
- Terapia alvo – Uso de medicamentos específicos para as alterações celulares que causam o linfoma, como Bortezomibe e Ibrutinibe
A equipe médica deve analisar a extensão da doença para definir qual o tratamento mais indicado. Assim como outros tipos de câncer, o linfoma não Hodgkin é dividido em estágios
Estágio I – Um único órgão ou grupo de linfonodos atingido
Estágio II – Dois ou mais grupos de linfonodos atingidos, do mesmo lado do diafragma
Estágio III – Grupos de linfonodos atingidos estão em posições diferentes do diafragma, acima e abaixo
Estágio IV – Além dos linfonodos, órgãos fora do sistema linfático são atingidos, como pulmões, fígado e ossos
A onco-hematologista Paola Torres explica que procedimentos cirúrgicos não são usados para o tratamento dos linfomas, apenas para diagnóstico através de biopsia.
“A história da doença é: o paciente detecta, vai no médico hematologista, o médico manda para o cirurgião, o cirurgião tira o linfonodo, manda para o médico patologista e o laboratório diz o tipo de linfoma. Aí volta para o hematologista, que inicia o tratamento”, explica a especialista.
Fonte: Diário do Nordeste Online