A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) está realizando as chamadas públicas…
Vitória parcial dos usuários! Senado aprova Projeto de Lei que permite exceções no rol taxativo dos planos de saúde
PL 2.033/22 segue para sanção presidencial
Por Luana Ferreira Lima – Advocacy Abrale
Ontem, 29/08/22, os usuários da saúde suplementar tiveram uma importante vitória no Congresso Federal: o projeto de lei (PL) 2.033/2022 foi aprovado no Senado Federal. O PL já havia passado com aprovação pela Câmara dos Deputados e agora segue para sanção presidencial.
O PL 2.033/22 é uma reposta do legislativo face à decisão do Superior Tribunal de Justiça, que decidiu em 08/06/22 que o rol de procedimentos e eventos em saúde da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) possui caráter taxativo, ou seja, está restrito à lista de procedimentos, considerando poucas exceções.
A decisão causou grandes impactos para os usuários da saúde suplementar, sobretudo aqueles que possuem procedimentos fora do rol e que eram garantidos por determinação judicial, como o caso dos pacientes com câncer, que para ter acesso a novas tecnologias na área da Oncologia recorriam ao judiciário para ter tratamentos e medicações garantidos, com chances de melhores desfechos.
O texto do PL 2.033 altera a Lei nº 9.656, de 1998, a chamada Lei dos Planos de Saúde, obrigando os planos a cobrir tratamentos que não esteja na lista da ANS, que se torna uma referência básica, mas desde que:
I – exista comprovação da eficácia, à luz das ciências da saúde, baseada em evidências científicas e plano terapêutico; ou
II – existam recomendações pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS, ou autorização pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, ou exista recomendação de, no mínimo, 1 (um) órgão de avaliação de tecnologias em saúde que tenha renome internacional, dentre os quais […]
Mas o projeto de lei ainda deve ser sancionado pelo Presidente da República.
Rol da ANS e o equilíbrio necessário no sistema de saúde suplementar
O rol da ANS não é um tema novo. Há muito se discute se o rol é exemplificativo, uma referência mínima ou uma lista fechada, taxativa, de coberturas obrigatórias. O que leva a questões outras que precisam de longo debate.
Falar sobre a sustentabilidade do sistema é preciso, e o cenário da saúde suplementar no Brasil exige uma análise profunda que toca temas sensíveis.
Um deles é o aprimoramento da Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS) no Brasil, que inclui questões essenciais como a avaliação da efetividade clínica, segurança, custos e implicações econômicas, éticas, sociais, culturais e legais, assim como efeitos aos pacientes, familiares, cuidadores e população, além da escassez de dados de vida real. Ademais, estudos robustos em ATS exigem também investimentos e incentivo à pesquisa, ainda carente.
Precisamos conhecer qual é a realidade das operadoras de saúde e como o sistema tem se mantido ao longo dos anos, mesmo com as demandas da judicialização e qual é o cenário a longo prazo.
É preciso mensurar os impactos que repercutem no Sistema Único de Saúde, já tão onerado, e como a continuidade da judicialização impacta as políticas públicas em saúde.
E como a regulação da saúde suplementar precisa caminhar, garantido direitos aos seus usuários de forma a alcançar um sistema equilibrado? Essas são questões que precisam ser debatidas, como propostas e participação da sociedade civil.
O impacto da mobilização social
O projeto de lei que busca a garantia de direitos para os usuários da saúde suplementar é fruto da força popular, que ganha maior relevância em um período de forte atendimento aos clamores sociais, o contexto das eleições. Mas o impacto da mobilização social deve também apontar para que o tema seja tratado com maior profundidade, celeridade e efetividade, na agência reguladora e pelos gestores e demais poderes, para que não se torne uma vitória parcial, pois a garantia de direitos inclui estar em um sistema equilibrado e equânime, cujos impactos devem ser mensurados em todas as suas dimensões.
Agora, o PL segue para sanção do Presidente da República, a mobilização precisa continuar. A sociedade, entidades, pacientes e familiares, devem continuar monitorando e sendo ativos nos espaços de controle social e nas demandas ao poder executivo e legislativo, todos nós devemos cumprir nosso papel pela efetividade do direito à saúde.