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Luta contra leucemia vai exigir que aluna faça Enem no hospital

 

Outros 43 alunos também farão as provas em classes hospitalares, segundo o Inep. Enem será aplicado nos dias 5 e 6 de novembro.

 

Sem Título 1

Os enjoos provocados pela quimioterapia ou a perda dos cabelos não são motivos para Marília Seriacopi de Sylos, de 16 anos, deixar de estudar e se preparar para fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A luta que travou contra a leucemia desde o ano passado a faz pensar em estudar medicina e se especializar em oncologia. Por isso, mesmo no segundo ano do ensino médio, não quer perder tempo e fará o exame como treineira para testar os conhecimentos.

Marília está entre os 44 estudantes que estão sob algum tratamento de saúde e farão o Enem dentro de um hospital do país, segundo o Inep. Trinta e seis estão em São Paulo, quatro em Campinas, dois em Goiânia (GO) e dois em Fortaleza (CE). A prova será aplicada por funcionários do Ministério da Educação e os candidatos terão de se submeter às mesmas regras dos demais alunos, incluindo tempo de prova. No total, o Enem 2016 tem mais de 8 milhões de inscritos.

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Marília Seriacopi de Sylos, de 16 anos, quer estudar medicina (Foto: Flavio Moraes/ G1)

 

Quando conversou com a reportagem do G1há um mês, Marília estava internada desde agosto à espera de um doador de medula compatível para um transplante. Encontrou. Teve uma alta temporária no dia 14 de outubro, mas volta no dia 20 de novembro. O transplante será em 1º de dezembro. Todo o tratamento é feito no Itaci – Instituto de Tratamento do Câncer Infantil, ligado ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Até a nova internação, terá de ir ao hospital para consultas semanais, mais um ciclo de quimioterapia, e para fazer o Enem nos dias 5 e 6 de novembro.

Marília recebeu o diagnóstico de leucemia no ano passado. Ficou internada entre novembro de 2015 a fevereiro deste ano. Em agosto, a doença reapareceu, e aí ela precisou correr atrás de um doador para fazer o transplante de medula. Encabeçou uma campanha pelas redes sociais para incentivar a doação de sangue e medula, que pretende, inclusive, continuar, mesmo após ter encontrado o doador.

Durante o tratamento nunca perdeu o bom humor ou deixou de estudar (e de sorrir). Os amigos do Colégio Franciscano Nossa Senhora Aparecida (Consa) onde estuda, costumavam levar xerox dos cadernos com as matérias ao hospital e ela teve aulas semanais com uma professora particular de literatura e redação. Agora, os professores estão indo até a sua casa, já que apesar da alta temporária, ela ainda não pode voltar à escola por conta da imunidade baixa.

“Desde o começo do tratamento sempre penso no lado positivo, sobre o que vem de melhor. Sempre penso que vai dar tudo certo, não tenho medo do que vai acontecer. Cada quimio é uma forma de eu poder me superar.”

Foi assim quando a enfermeira bateu na porta do quarto para raspar os cabelos de Marília, já enfraquecidos pelos efeitos da quimioterapia. “Encenei uma espécie de remake de Laços de Família, com fundo musical e tudo. Não que eu não tenha ficado triste de perder o cabelo, mas não depressiva ou arrasada. Comecei a gostar de mim careca, me achar bonita.”

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Monike Ellen de Macedo Lima, de 19, anos quer estudar jornalismo (Foto: Flavio Moraes/ G1)

 

Última quimioterapia e jornalismo

A luta contra o câncer de Monike Ellen de Macedo Lima, de 19 anos, começou em 2014. Neste ano passou mais tempo internada do que na própria casa. Começou o tratamento contra a leucemia, mas teve várias intercorrências, uma delas exigiu uma cirurgia no intestino. Precisou ficar 13 dias entubada com por uma conta de uma hemorragia severa. Perdeu mais de 20 quilos.

Por um momento, sua mãe, Dionisia Cícera de Macedo, de 54 anos, achou que não sobreviveria. Prometeu que se ela se curasse, rasparia os cabelos. Fez isso. Hoje os cabelos já cresceram, estão curtinhos, assim como o de Monike, e pretende mantê-los assim.

Em 2014, Monike estava no terceiro ano do ensino médio de uma escola da rede estadual. Por conta da doença, teve de abandonar as aulas e a tão sonhada formatura. Para conseguir concluir a educação básica contou com a professora Angelita Moraes Ferreira, que dá aulas na classe hospitalar do Itaci, e a ajudou a aprender conteúdos, fazer lições e provas no hospital.

De fevereiro de 2014 para cá, Monike fez 106 sessões de quimioterapia – a última foi no dia em que a reportagem a entrevistou no hospital, em 21 de setembro. Em 2015, passou por algumas internações e neste ano esteve no Itaci apenas para passar pelas sessões de quimio. Agora fará acompanhamentos mensais até a alta médica absoluta que só virá em cinco anos.

Com a saúde estabilizada, ela vai retomar a vida escolar. Fará o Enem pela primeira vez e pretende cursar faculdade de jornalismo. Mais uma vez conta com a ajuda da professora Angelina que a incentiva a fazer simulados, revisar provas anteriores e treinar redação.

“Perdi um pouco o ritmo de estudo porque é mais difícil acompanhar de fora do mundo da escola. Mas eu espero que eu consiga realizar meus sonhos”, diz.

Angelita, que é professora da rede estadual de São Paulo, mas há quatro anos leciona em hospitais, incentiva os pacientes em idade escola e bom estado clínico a participar de todos os processos seletivos, como se estivessem fora do hospital.

“O aluno está dentro do hospital, mas tem o direito e a oportunidade daquele da escola regular. Nosso objetivo é que eles estejam saudáveis, continuem a vida lá fora. É ajudá-los a conquistar coisas fora desse espaço que muitas vezes é dolorido. “

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Monike e a mãe Dionisia: cabelos curtos e vitória contra a leucemia (Foto: Flavio Moraes/ G1)

 

 

Fonte: Educação | G1
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