No dia 6 de novembro aconteceu, no Rio de Janeiro, a nona edição do Fórum…
Câncer será a principal causa de mortes no Paraná em 12 anos, diz estudo
Atualmente, as doenças do aparelho circulatório são as que mais matam no estado. Conforme especialistas, investir em prevenção é a saída para evitar avanço da mortalidade.
‘Essa agonia da morte não tira meu humor pela vida’, diz o professor de sociologia e diretor de teatro, Eduardo Montagnari, que passou por um problema cardíaco e atualmente enfrenta uma batalha contra o câncer. (Foto: Renato Domingos/Reprodução)
O câncer será a principal causa de mortes no Paraná a partir de 2030, aponta um estudo do Observatório de Oncologia, intitulado “2017-2047: em 30 anos venceremos a guerra contra o câncer?”. Conforme a pesquisa, atualmente as doenças do aparelho circulatório são as mais letais no estado, seguidas pelos tumores.
Com base na projeção do estudo, após a prevalência do câncer, em 2039 as doenças do sistema nervoso se tornarão a principal causa de morte dos paranaenses. Em 2045, as doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas assumirão a segunda posição no ranking, indica a pesquisa.
O estudo leva em conta dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre outros fatores, para estimar a taxa de mortalidade por uma doença ou grupo de doenças e a ocorrência ao longo dos anos.
De acordo com a pesquisa, comprova-se que a história, a cultura e os hábitos de vida explicam como um povo adoece e morre.
Diariamente, as pessoas estão expostas a fatores de risco, desde a alimentação inadequada e a inatividade física, passando pelo tabagismo e uso de drogas, até causas externas ao corpo, como violência, acidentes, problemas ambientais e desigualdades sociais.
“A mudança no processo saúde-doença propicia ao Brasil um período de transição epidemiológica com predomínio das doenças crônicas não transmissíveis, dentre elas o câncer”, diz trecho do estudo.
Prevenção ao câncer
O oncologista Sérgio Lunardon Padilha, do Hospital de Clínicas, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), afirma que estudos recentes têm comprovado a eficiência da conhecida – mas nem sempre praticada – prevenção.
Segundo ele, além dos hábitos das pessoas, que devem ser melhorados, a exemplo da alimentação, existe a necessidade daquilo que considera como modelo ideal de rastreamento de doenças, e que demanda investimento governamental.
“Em países como a Suécia e a Noruega, as pessoas são convocadas pelo governo para fazer testes. De tempos em tempos, chega uma carta e a pessoa tem que ir fazer os exames e receber as orientações”, conta.
No Paraná, conforme o oncologista, a prevenção ocorre em maior escala para casos de câncer de mama e de próstata. Padilha diz acreditar que o enfrentamento aos tumores precisa começar no atendimento primário aos pacientes.
“O rastreamento ideal deveria ser feito dentro das Unidades Básicas de Saúde. Mas, hoje, por exemplo, uma colonoscopia pode demorar um ano. Se todo mundo com mais de 50 anos for fazer inviabiliza o sistema. Aí as coisas ficam realmente difíceis”, avalia o oncologista.
‘Não é a hora’
O professor de sociologia aposentado pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), no norte do Paraná, e diretor de teatro, Eduardo Fernando Montagnari, de 70 anos, driblou há três anos a principal causa de morte dos paranaenses.
Ele teve o peito aberto para colocar uma válvula de metal na aorta, que a qualquer momento poderia se romper devido a uma dilatação.
Montagnari tinha conhecimento do problema, mas descobriu a gravidade após uma troca de médico durante os exames de rotina. Em menos de dois meses, o professor estava operado.
“Eu não sentia nada. Fui ter a clareza do risco e do que era ser aberto só depois da operação. Aí eu fiquei abalado, porque é uma cirurgia muito invasiva”, conta.
A prevenção faz parte da vida de Montagnari desde os 45 anos. Recuperado do susto do coração, no ano passado um exame conhecido como PSA (Antígeno Prostático Específico) apontou a existência de um câncer de próstata.
O professor de sociologia e diretor de teatro, Eduardo Montagnari, venceu um problema no coração e hoje luta contra uma ‘doença invisível’. (Foto: Renato Domingos/Reprodução)
O professor explica que já sabia da necessidade de uma raspagem no local por causa de uma hiperplasia prostática benigna. Porém, o novo diagnóstico o pegou de surpresa. “Minha vida mudou para sempre a partir daquele dia”, revela.
Segundo ele, de 12 amostras retiradas para uma biópsia, duas sinalizavam a existência de um câncer ultra-agressivo, mas descoberto no começo. A retirada da próstata, feita há quatro meses, foi a solução indicada pelo urologista.
Um mês após a cirurgia, o mesmo exame de rotina trouxe outro desafio para a vida dele. Desta vez, ele diz ainda não saber qual é o problema enfrentado, visto que os exames são inconclusivos quanto a existência de um tumor ou de metástases.
Para que o incerto não se torne, de fato, um problema real, o professor diz fazer um tratamento que consiste em um bloqueio hormonal.
“Eu não sinto nada. Isso que me deixa enlouquecido. Passei o tempo pensando na morte e estranhando a vida. Mas essa agonia da morte não tira meu humor pela vida. Eu sei que não é a hora”, desabafa.
Doenças do sistema nervoso
O estudo indica um avanço considerável da taxa de mortalidade no Paraná das doenças do sistema nervoso, principalmente depois de 2030. Para a neurologista Elyéia Hannuck, ums das razões que podem ser responsáveis por isso é o aumento dos fatores de risco nas próximas décadas.
“Questões como o aumento do estresse, da hipertensão e a piora da qualidade de sono estão diretamente relacionadas ao Acidente Vascular Cerebral (AVC), por exemplo”, explica.
Segundo ela, as gerações futuras precisam ter uma conduta diferente em relação à qualidade de vida. “O que vemos são menos horas dormidas, mais horas trabalhadas e mais consumo de tecnologia, o que influencia na qualidade de sono e no aumento da ansiedade”, avalia.
A neurologista também explica que o aumento da taxa de mortalidade por doenças do sistema nervoso também poderá estar relacionado ao crescimento da expectativa de vida da população nas próximas décadas.
“Com o avanço da medicina deveremos ter novos diagnósticos de doenças degenerativas. A medida em que aumentam [os tipos de] doenças neurodegenerativas crescem os riscos de mortalidade. Hoje, o Alzheimer é mais prevalente porque não temos outras classificações”, diz.
Para tentar conter o avanço das doenças do sistema nervoso, Elyéia afirma que alimentação e rotina saudáveis são fundamentais. Além disso, há a necessidade em controlar as doenças metabólicas, como diabetes e colesterol, assim como monitorar a pressão arterial.
Principais causas de mortes em 2047 nos estados, segundo a pesquisa:
- Câncer: Acre, Amazonas, Distrito Federal, Espírito Santo, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina e São Paulo
- Causas externas de morbidade e mortalidade: Amapá, Ceará, Goiás, Maranhão, Paraíba, Roraima, Sergipe e Tocantins.
- Doenças do aparelho circulatório: Alagoas, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Norte
- Doenças do aparelho respiratório: Pernambuco e Piauí
- Doenças do aparelho geniturinário: Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro
- Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas: Pará
Fonte: Site | G1