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Filho doa medula óssea e salva vida da mãe com leucemia: ‘instrumento de Deus’

Última atualização em 13 de julho de 2023

Assistente administrativa de Rio Claro (SP) está há cinco anos sem a doença e se considera curada. Com avanço de técnicas contra rejeição, procedimento tem se tornado cada vez mais comum, mesmo com pouca compatibilidade do doador

Após passar por quimioterapia e um autotransplante e ver o câncer voltar duas vezes, a assistente administrativa Kelly Cristina Emygdio Ortigoza, de 46 anos, de Rio Claro (SP), encontrou o remédio para uma leucemia aguda em seu filho.

Neste mês, é realizada a campanha Junho Laranja, que alerta para duas doenças importantes do sangue: a anemia e a leucemia, e aborda a importância de ser um doador de medula.

Foi justamente doando a sua medula, que Marcio Luís Ortigoza Filho ajudou a mãe a superar a doença. Mesmo sendo apenas 50% compatível, o jovem, na época com 20 anos, foi um doador perfeito, tanto que poucos tempo depois, a sua medula já ‘tinha pegado’ na mãe.

A minha mãe costuma dizer que ela me deu a vida e eu peguei um pouquinho do que Deus me deu por meio dela para salvar a vida dela’, diz Marcio, hoje com 25 anos.

Segundo o hematologista Iago Colturato, membro da equipe de Transplante de Medula Óssea (TMO) do Hospital Amaral Carvalho, de Jaú (SP), o transplante de medula entre pais e filhos tem se tornado cada vez mais comum.

‘Como metade da compatibilidade vem do pai e metade vem da mãe, virtualmente há uma chance de todo mundo ter um doador que seja 50% e com técnicas um pouco mais novas para prevenir rejeição você consegue fazer transplantes só com essa compatibilidade’, explicou.

Dos 59 transplantes alogênicos (com doadores) realizados no Hospital Amaral Carvalho este ano até maio, 25 tiveram os filhos como doadores, em segundo lugar vem os doadores aparentados (outros membros da família) e depois o não aparentado (leia mais sobre o transplante de medula óssea abaixo).

Dez dias entre os sintomas e a internação

A leucemia chegou na vida de Kelly em 2014 de forma súbita e mexeu com toda a família. Entre o início dos sintomas e a internação foram apenas 10 dias.

‘Não era nada que chamava atenção, como eu trabalhava, tinha uma vida corrida, eu tinha canseira, sono e achava que era consequência disso, mas aí comecei a ter umas manchas roxas e isso chamou a atenção’, relembra.

Ela foi a um médico e antes que recebesse os resultados dos exames que foram feitos de manhazinha, Kelly começou a ter bolsas de sangue nos olhos, foi ao pronto-socorro e de lá, direto para o Hospital Amaral Carvalho.

Segundo o dr. Colturato, a leucemia aguda, como a que Kelly teve, se manifesta de forma abrupta e com sintomas inespecíficos, como cansaço, fraqueza, palidez, dor nas pernas, manchas pelo corpo, sangramento, febre.

O tratamento para o tipo de leucemia dela foi a quimioterapia e, meses depois, Kelly voltou a sua rotina. Mas dois anos depois, quando acabou a medicação, a doença voltou.

A indicação então foi um autotransplante. Neste caso, as células-tronco do próprio paciente são coletadas e utilizadas para a recuperação após a quimioterapia e/ou radioterapia. O procedimento foi feito em 15 de maio de 2017, mas não funcionou.

A partir daí começou a busca por um doador, que começou entre os parentes. As primeiras a serem testadas foram as duas irmãs de Kelly, mas nenhuma era compatível. No banco de doadores, a pessoa mais compatível tinha apenas 65% de compatibilidade, o que é considerado pouco para não familiares.

Como última medida os médicos optaram por testar os filhos ‘Em 2014 esse protocolo não existia, em 2018 já existia, então era o momento’, lembra Kelly.

Tanto Marcio como a irmã apresentaram 50% de compatibilidade, o máximo esperado para doadores filhos. Um ano depois do autotransplante, em 18 de maio de 2018, Kelly recebeu a medula do filho.

‘Eu não tive nenhum tipo de rejeição. Em junho a medula do meu filho já tinha dominado e já tinha 100% da medula dele – que agora é minha também (risos). Foi uma benção porque hoje eu tenho uma vida normal e me considero curada’, comemora Kelly.

Ela conta que a possibilidade de encontrar um doador entre seus filhos a encheu de preocupação e esperança.

‘A etapa mais difícil pra mim foi quando não deu certo o autotransplante e não achava doador. Achava que ali era meu ponto final, você sabe que está lutando contra o tempo. Mas quando falaram de testar meus filhos, a minha primeira pergunta foi sobre se haveria risco para eles. Receber a medula do meu filho é uma sensação que não tem igual, tenho certeza tanto pra mim quanto para ele’, disse.

Instrumento de Deus

Marcio ressalta todo o tempo que ter doado a medula dele para mãe os aproximou e até os tornou muito parecidos. E parecida também foi a resposta dos dois sobre o sentimento da doação.

‘É um conselho que eu dou para todo mundo, se possível se cadastre no banco de doação, porque é um processo dolorido, mas o que dói é o corpo e no mesmo dia você está sem nada. Mas o coração, o espírito… Só de saber que está ajudando uma pessoa, ser instrumento para que Deus ajude outra pessoa, não tem sensação que consiga explicar, não tem palavras. Quem consegue ser um doador é um sentimento inexplicável!’

Até a doença de sua mãe, Marcio nunca tinha se atentado para a importância da doação. ‘Com 20 anos eu olhava meus colegas e nenhum deles estava passando pelo que a gente estava passando. Foi uma situação que me ajudou muito amadurecer’, afirmou.

Por causa do protocolo do hospital (feito somente com doadores familiares), ele passou uma semana no mesmo quarto que a mãe para se preparar para a doação, tomando uma dolorida medicação intravenosa para estimular a circulação das células-tronco pelo corpo.

A preparação foi mais demorada que a extração da medula, feita em um sábado de manhã e, de noite, já foi trabalhar em Rio Claro.

No sábado à tarde já tive alta. Quando eu estava saindo do quarto, a minha mãe estava começando a receber a medula e eu vi ela começando a receber e aí é um sentimento de gratidão de saber que deu certo.”

“Eu agradeço a Deus todos os dias por ter me dado a oportunidade de eu ter feito um pouco para minha mãe. A gente não tem poder para curar nada nem ninguém, mas através de nós Ele pode curar. A minha mãe fala que ela me deu a vida e eu dei um pouco do que Deus colocou em mim para curar ela’, afirma.

Valor à vida

Para Kelly uma experiência tão dolorosa como passar por um câncer e depender de um doador despertou a consciência do quanto a vida é valiosa.

“Viver intensamente não tem preço. Eu tento viver intensamente todos os dias porque a gente não sabe o que pode acontecer. Dia 11 [de abril de 2014] de manhã eu estava bem, era uma sexta-feira e fazia planos para de noite ir assistir o Capital Inicial, que estava na minha cidade, e eu acabei o dia no hospital contra o câncer”, disse.

“A doença deixou algumas sequelinhas pequenas, mas a maior sequela que ela deixou é foi reconhecer que todo dia é um dia especial. Você tem que fazer planos, mas tem que viver bem o dia de hoje.”

Como funciona o transplante entre parentes

O transplante de medula óssea é um tipo de tratamento proposto para algumas doenças que afetam as células do sangue, como as leucemias e os linfomas, e consiste na substituição de uma medula óssea doente ou deficitária por células normais de medula óssea por meio de células-tronco.

Para evitar rejeição, o doador tem que ser o mais compatível possível com quem vai receber. Em caso de doadores externos, essa compatibilidade precisa ser de, no mínimo, 90%.

O Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome) é o terceiro maior banco do tipo no mundo, e mantém ligações com os bancos dos Estados Unidos e da Europa.

Mas devido às suas origens, esses bancos tem mais possibilidades de doadores caucasianos, o que causa maior dificuldade a pessoas de origem africana ou indígena encontrar doadores compatíveis.

Como há dificuldade de conseguir um doador com mais de 90% de compatibilidade nos bancos, a ciência começou a criar mecanismos de ampliar o leque de possíveis doadores e foi buscar soluções na própria família do paciente.

Os irmãos são os primeiros a serem testados, pois há 25% de chance de serem 100% compatível. Já os filhos podem alcançar o máximo de 50% de compatibilidade.

‘A gente chama de transplante haploidêntico, onde há só um haplótipo compatível, porque você tem um haplótipo do pai e um haplótipo da mãe’, explica do dr. Colturato.

Mas a medicina aceita o doador 50% compatível somente se for parente direto como filhos ou progenitores.

O hospital Amaral Carvalho começou a intensificar este tipo de transplante de medula por volta de 2015. Neste ano, dos 59 transplantes alogênicos realizados na unidade até maio, 25 tiveram os filhos ou pais como doadores, em segundo lugar aparentado (irmãos ou tios) e depois o não aparentado.

‘Este tipo de transplante tem se ampliado muito porque é dentro da família e você consegue uma agilidade maior do que procurar um doador de fora’, afirma o hematologista.

Critérios de doação

  • Para se tornar um doador de medula óssea é necessário:
  • Ter entre 18 e 35 anos de idade para se cadastrar; a doação pode ser feita até os 60 anos;
  • Estar em bom estado geral de saúde;
  • Não ter doença infecciosa ou incapacitante;
  • Não apresentar doença neoplásica (câncer), hematológica (do sangue) ou do sistema imunológico.
  • Algumas complicações de saúde não são impeditivas para doação, sendo analisado caso a caso.

 

Fonte: G1.Globo

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