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Solidariedade marca setor da saúde frente à tragédia com as enchentes no Sul

Hospitais criam rede de solidariedade para ajudar unidades e população atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul

Perto de completar 1 mês desde o início das enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul, com os níveis dos rios e chuvas diminuindo, municípios gaúchos começam a tentar retomar a rotina. A população trabalha para limpar as ruas, analisando impactos e perdas após o desastre. E a área da saúde trabalha dobrado. Se por um lado serviços de saúde foram impactados e precisaram adaptar o atendimento, por outro, seguem atuando para dar suporte à população e aos funcionários, que em grande parte também foi afetada pelas enchentes no Sul e estão em dormindo em abrigos ou até mesmo nos próprios hospitais.

O cenário de catástrofe comoveu a população, que fez o possível para atuar como voluntário e ajudar no que podia. Agora, com a volta aos estudos e trabalhos, autoridades fazem um apelo para que os cidadãos sigam ajudando na reconstrução – que pode durar meses.

Entre os principais hospitais afetados, estão o Hospital de Pronto Socorro de Canoas e o Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, instituições importantes para suas regiões e que precisam evacuar o espaço às pressas. Agora, terão um caminho pela frente para a reconstrução.

Cerca de 1170 consultórios e 548 unidades de clínicas e centros de saúde podem ter sido afetados, além de 224 farmácias, de acordo com o Observatório de Clima e Saúde, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

O trabalho é árduo, mas gestores apontam que a solidariedade da saúde, assim como da própria população, podem e irão contribuir com a retomada dos serviços. Enquanto isso, entidades como o Instituto de Governança e Controle do Câncer trabalham para dar o suporte mínimo aos pacientes que não podem interromper seus tratamentos.

“Existe uma história antiga de solidariedade entre os hospitais, de um ajudar o outro. Faz parte da medicina, da saúde, da enfermagem e da gestão hospitalar. Carro pipa, água, medicamentos, etc. Essa solidariedade está muito presente, até porque temos intimidade”, afirma Mohamed Parrini, CEO do Hospital Moinhos de Vento .

Ninguém fica para trás após as enchentes no Sul

Com mais de 90% das cidades afetadas pelas enchentes , o Rio Grande do Sul vive um estado de calamidade. Os serviços de saúde e voluntários buscam atender a população que está em vulnerabilidade, principalmente em relação a doenças infecciosas, como é o caso da leptospirose, e dar apoio psicológico àqueles que perderam tudo.

No entanto, existem diversos desafios simultâneos. Porto Alegre, por exemplo, recebe um grande número de pacientes de outras regiões que fazem tratamento oncológico nos principais hospitais da capital. Com vias alagadas, o deslocamento se tornou inviável, além daqueles que tiveram suas casas inundadas.

Por isso, a sociedade organizou uma iniciativa para receber aqueles que não podem interromper o tratamento. Criada pelo Instituto Camaleão e Instituto de Governança e Controle do Câncer (IGCC), em parceria com o Movimento TJCC, Abrale e Instituto Oncoguia, além de outras organizações, foi montado um abrigo para receber esses pacientes com câncer, com capacidade para 30 pacientes e 30 acompanhantes.

São pessoas que estariam fazendo seu tratamento no hospital e voltariam para casa. E com tudo que aconteceu, ou estão desabrigadas ou não conseguem ir e vir. Oferecemos alimentação balanceada, transporte, equipe multidisciplinar de saúde que organiza a medicação e apoia, com médicos, estudantes, nutricionistas oncológicos, fisioterapeutas, psicólogos, enfermeiros e técnicos de enfermagem”, explica Daniely Votto, diretora-executiva do IGCC.

A ideia é centralizar para evitar que esses pacientes estejam expostos ao risco de doenças infecciosas, já que em geral, estão mais vulneráveis por conta do tratamento. Da mesma forma, garantir que consigam acessar o sistema de saúde, evitando que haja a descontinuidade do cuidado.

Votto explica que além dos acolhidos, outros 800 pacientes em todo o estado do Rio Grande do Sul têm sido monitorados para tentar viabilidade e dar suporte quando houver dificuldade em acessar os serviços ou receber medicamentos em casa. O trabalho tem sido feito com o apoio de voluntários.

Com a redução do nível da água, escolas e comércios começam a reabrir, o que pode causar um impacto nos cuidados com a população. “Toda essa rede não pode parar. Já estamos sentindo uma diminuição no número de voluntários, cozinhas solidárias e abrigos estão fechando”, avalia Votto, que reforça a necessidade da população manter essa solidariedade.

A diretora-executiva do IGCC aponta que o sistema de saúde não estava preparado para um desastre dessa dimensão, mas avalia que as secretarias municipais e estadual estão atuando para além das suas capacidades, buscando mitigar as dificuldades e contribuir com a saúde da população.

No entanto, Daniely aponta que o Ministério da Saúde poderia ampliar a sua atuação, além das questões emergenciais. “Falta uma lista de coisas que a pasta vai fazer pelas pessoas. Não vai poder ficar pensando na saúde de forma limitada, mas também como trabalhar as respostas do sistema, trabalhando em conjunto com outros ministérios, para que haja uma coordenação permanente”, observa.

Sem profissionais, não há saúde

Tendo feito uma mudança estrutural recente que levou a rede elétrica para o segundo andar e localizado em uma região alta, mais distante do rio Guaíba, o Hospital Moinhos de Vento não foi diretamente afetado pelas enchentes. No entanto, como toda população gaúcho, sentiu o impacto das inundações.

“Hoje o maior desafio é a logística das pessoas, principalmente com filhos pequenos e parentes em casa. Vamos separar recursos para apoiar quem perdeu tudo. Dos 1300 funcionários em áreas atingidas, conseguimos falar com 1050 pessoas. Desses, 340 moradias foram afetadas com águas com mais de 1 metro”, afirma Mohamed Parrini, CEO da instituição.

O hospital chegou a ter 200 funcionários abrigados dentro dele, que ou tiveram suas casas invadidas pela água ou dificuldade para conseguir retornar. Uma série de mudanças foi feita para conseguir retomar os serviços. No entanto, vem buscando apoiar outras instituições e a população nos abrigos.

De acordo com o CEO, mais de 40 abrigos foram visitados, onde realizaram mais de 600 atendimentos em saúde. Além disso, a instituição liberou o acesso à telessaúde para aqueles em situação de vulnerabilidade. Também foi criado um ambulatório virtual de saúde mental para atender profissionais da saúde e voluntários que estão atuando com a população.

O hospital também foi utilizado como heliponto e centro de distribuição de doações e produtos de saúde que seriam destinados a outros serviços de Porto Alegre. A atuação em colaboração, além da relação próxima, foi considerada essencial para reduzir o impacto em toda a sociedade.

“Nossa primeira etapa é proteger o hospital, os nossos funcionários e nossos pacientes. Não existe um um antes do outro, é uma tríade que tem um racional lógico. E depois a cidade, onde entra o Moinhos Social. O grande trabalho é feito pelos voluntários, temos quase 300 pessoas funcionárias do Moinhos e 200 externos”, conta Parrini.

O CEO conta que também tem buscado auxiliar na reconstrução do Hospital de Pronto Socorro de Canoas, que foi inundado pelas enchentes. Mohamed conta que está em diálogo com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, e aponta que o Moinhos de Vento deve colaborar com essa reconstrução. A pasta já destinou até momento R$ 1,7 bilhão em recursos emergenciais.

Além das fronteiras

De São Paulo, Fernando Torelly, CEO do Hcor, tem buscado dar apoio técnico e movimentar o empresariado para centralizar doações. Gaúcho, o executivo tem ido até o Rio Grande do Sul de carona em helicópteros para buscar diálogo e atender a demanda dos hospitais.

“Criamos uma missão, chamada de Querência Amada . Ela não tem não um dono. Se você ver, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Sindhosp, a Viveo e a Master, empresas de logística que estão assegurando a captação das doações e envios até o Sul, entraram na Missão. Mais recentemente, o Grupo Fleury e outros hospitais estão entrando”, explica Torelly .

Dois caminhões já levaram doações para o estado. Um foi até o Hospital Moinhos de Vento e outro para o Hospital Ernesto Dornelles, que organizaram a distribuição. Mas o trabalho tem ido além das doações.

“Fui até o Hospital Universitário de Canoas para conversar com a administração e entender as necessidades da instituição. No centro cirúrgico, havia 11 salas e 4 aparelhos de anestesia funcionando. A Rede D’Or doou 3 novos aparelhos. O Hospital de Guaíba estava isolado e os pacientes não podiam vir para Porto Alegre fazer hemodiálise. Conseguimos com empresários do Rio Grande do Sul uma doação de 170 mil reais para insumos para hemodiálise”, explica Torelly.

O executivo também tem buscado apoiar o Hospital Mãe de Deus para planejar o seu plano de reabertura. Sendo um dos principais afetados, teve toda a sua estrutura elétrica submersa. Um grupo de especialistas formado pelo Hcor, Rede D’or e Eletel, empresa de engenharia focada em unidades hospitalares, fez uma análise do cenário.

“Eles verificaram que a estrutura foi danificada, teria que locar gerador, transformador e painel de potência para instalar imediatamente e colocar o hospital para funcionar em 20 dias. E a nova usina não poderia estar localizada mais no térreo, para não correr o risco de fazer tudo isso e em uma nova enchente. O hospital já tinha o projeto para colocar a subestação elétrica no segundo andar, onde está o estacionamento”, explica o CEO. O Mãe de Deus planeja reabrir em junho e investir pelo menos 30 milhões de reais.

Torelly avalia que o sentimento de solidariedade deve se manter a médio prazo, já que a reconstrução de todo o Estado deve demorar e a população deve seguir com necessidades. Também aponta que o desastre do Rio Grande do Sul deve motivar as autoridades a investirem na saúde e seguir a ciência. Segundo ele, é preciso “fazer uma reflexão sobre o quanto um equipamento hospitalar pode viver com subfinanciamento”.

 

Fonte: Futuro da Saúde

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